quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Eu não sou médica, nem fisioterapeuta... sou formada na área de exatas e portanto o intuito do blog é unicamente relatar minha experiência como paciente e possibilitar a troca de informações sobre esta patologia tão pouco freqüente. 
Se você sente dores no cóccix a primeira atitude a ser tomada é ir a um ortopedista. Ele poderá diagnosticá-lo e encaminhá-lo ao tratamento correto.
Quando fui diagnosticada com coccidinia (dor no cóccix) minha primeira ferramenta de informação foi a internet. Fiquei surpresa com a escassez de informações. Elas existem, mas no início eu fiquei com mais dúvidas do que respostas. O que me ajudou muito foram os relatos de pessoas que como eu também sofrem com dores no cóccix, e também dos  médicos ortopedistas e fisioterapeutas. Entretanto pouco vi sobre pessoas que conseguiram ganhar esta batalha, e se conseguiram, como foi o tratamento, o que elas fizeram?
Eu espero ser uma dessas pessoas, espero daqui a alguns meses poder dizer que não sinto mais nada e estou “curada”. Entretanto sei que o tratamento é longo, pois a melhora é lenta e exige muita disciplina. Mas farei o possível para ficar boa, e espero poder contribuir e ajudar outras pessoas que estão na mesma situação.
Cada caso é um caso, e cada organismo é diferente, e responde de diferentes maneiras aos tratamentos, principalmente porque são vários os fatores que podem levar ao desenvolvimento da coccidinia. Por isso a importância de consultar um bom ortopedista, principalmente um especialista em coluna. Mas alguns tratamentos do tipo conservador podem servir para a maioria que sofrem desta patologia, e talvez sirvam para você também.
Quem passa por isso sabe o quanto esta situação é irritante e o quanto atrapalha a vida profissional, social e pessoal. Poucos entendem o sacrifício daqueles que sofrem de coccidinia, pois a maioria das pessoas já sentiu dores nas costas, e muitas convivem com isso, mas o que ninguém sabe é que a dor no cóccix não é comparável a nenhuma dessas outras dores, ela é diferente, não sou especialista em dor, então só sei dizer que o tipo de dor é muito diferente, é uma dor que tira a concentração e que incomoda muito, mesmo quando não é tão intensa. E para piorar, as atividades do dia a dia exigem que as pessoas fiquem exatamente na posição causadora da dor: sentadas.  É o mesmo que ficar olhando para luz quando estamos em plena crise de enxaqueca.
O início da dor
Eu estava no último mês de aulas, fazia um curso de especialização de segunda à sexta, e durante o dia trabalhava 8hs em um escritório, sentada, e comecei a sentir fortes dores no cóccix somadas a uma sensação de pressão. E não era para menos, somando o tempo que ficava sentada durante o deslocamento de carro, no trabalho e na aula, davam em torno de 13hs diárias na mesma posição.  Definitivamente o corpo não foi feito para agüentar toda esta carga. E usualmente não fazemos nada para prepará-lo para suportá-la. Na época eu não tinha tempo de fazer qualquer atividade física. Coisa que hoje julgo uma prioridade tão importante quanto trabalhar e cuidar da família. Porque não cuidar do nosso maior patrimônio: nosso corpo?
Me recordo que no último mês eu já quase não suportava mais ficar sentada, era uma verdadeira tortura, e eu não fazia a menor idéia do que era aquilo. Somente tomava uns remédios para dor, colocava bolsa de água quente quando chegava em casa e tentava esquecer. Achava que eu seria capaz de agüentar até as aulas acabarem, já que estavam no final mesmo, e que depois tudo iria passar pois eu teria as noites livres e poderia descansar meu corpo dessa posição.
Mas não foi isso que aconteceu, as aulas acabaram, eu chegava em casa a noite após o trabalho morrendo de dor, no carro a dor só piorava e era uma tortura até chegar em casa. A primeira coisa que eu pensava era ir direto pra cama, pois deitada é a única posição que não dói, alívio imediato.  A dor era tanta que eu mal agüentava ir até a cozinha e preparar uma bolsa de água quente, eu só queria ficar deitada e mais nada.
A primeira consulta ao ortopedista
Dia após dia dessa maneira percebi que aquilo não iria passar sozinho, e resolvi consultar um ortopedista da família, logo ele já pode fazer o diagnóstico: coccidinia. Ele pediu um raio x de toda a coluna e também só da parte lombar e do sacro. O raio x demonstrou que eu tenho uma escoliose em S, fato que já era de meu conhecimento, mas em relação ao cóccix, o resultado foi negativo. Aparentemente eu não tinha nada. Mas como ortopedista ele sabe que em alguns casos de pacientes com coccidinia o raio x não alerta qualquer desordem. Sendo assim me receitou antiinflamatórios, analgésicos, pediu para que eu colocasse bolsa de água quente, comprasse uma almofada para sentar e me encaminhou a uma fisioterapeuta para fazer RPG com o intuito de melhorar a escoliose, e fisioterapia para tratar o cóccix.
Porém, alguns dias antes de dar início a fisioterapia e o RPG eu cai, e para proteger o cóccix e não cair de bunda no chão eu aparei a queda com as mãos e fraturei o punho. Tive que fazer uma cirurgia de emergência e fiquei 43 dias com fixadores externos no punho. Após a retirada dos pinos eu tinha que reabilitá-lo, e toda minha atenção se voltou para conseguir recuperar novamente os movimentos.  Com isto tive que deixar o tratamento do cóccix e da escoliose de lado.
A esta altura eu já não agüentava mais, meu cóccix chegava a me incomodar muito mais que meu punho recém quebrado, e em um retorno ao ortopedista ele me pediu que procurasse um colega, especialista em coluna.
Após todo o sofrimento que passei com o punho, os 43 dias com aqueles fixadores externos + a fisioterapia, e todas as idas ao hospital, eu queria passar longe de médico, e resolvi fazer o que o ortopedista tinha me receitado no início: RPG, antiinflamatórios, fisioterapia, bolsas de água quente, almofada para sentar... e resolvi adicionar também o pilates....
O início do tratamento
Eu cheguei a fazer poucas sessões de fisioterapia, na verdade eu não tive uma experiência muito boa, pois eram 4 pessoas na mesma sala, tinha dia que chegavam a ir 6 pessoas para 1 única fisioterapeuta, e é claro que não dava tempo para ela fazer os exercícios com cada paciente. Então senti que estava perdendo tempo.  Mas uma coisa eu adorei: a eletroterapia, que é feita com estimulação elétrica, são leves choquinhos que conferem em um alívio imediato na dor, eu até queria ter um daqueles aparelhinhos em casa. São fantásticos. Mas não são a solução. Atuam somente na dor e não na causa da dor.
Então, ao comentar com as pessoas sobre a minha experiência decepcionante com a fisioterapia me indicaram uma fisioterapeuta que faz também RPG, e ela passou a atender na minha casa duas vezes por semana. Isto foi em outubro.
Comprei também uma almofada de viscoelástico para usar na cadeira do escritório, e iniciei o pilates também 2 vezes por semana. Então eram 2 vezes por semana RPG, e 2 vezes pilates, religiosamente. No RPG é feito também uma massagem, denominada de mobilização, e muito alongamento e fortalecimento muscular.  Após cerca de duas semanas que já comecei a notar uma melhora.
Além do pilates, do RPG e da almofada, eu resolvi negociar na minha empresa meu horário de trabalho, como trabalho necessariamente com computador, eu poderia trabalhar parte do dia em casa, onde poderia escolher a melhor posição para trabalhar, e também levantar mais vezes e me alongar. Graças a Deus meu trabalho me permite isso, e desde então eu tenho trabalhado 2 horas por dia em casa. São 2 horas a menos de dor ao dia que fazem toda a diferença.
Com tudo isso eu comecei a notar uma melhora, lenta mas progressiva. Até que chegou ao ponto de passar um a dois dias sem sentir nenhuma dor, o que era incrível para quem morria de dor todos os dias. Antes de iniciar o tratamento eu cheguei a tomar antiinflamatório (nimesulida) 2 vezes ao dia, todos os dias, e em alguns dias eu ainda tomava novalgina. Após 2 meses e meio fazendo RPG, pilates e com o horário reduzido em escritório, a melhora foi tanta que eu passei a necessitar do antiinflamatório somente 1 a 2 vezes por semana, as vezes era só meio comprimido.
Eu estava certa de que estava me livrando dessa dor e que ficaria boa. Até que entrou dezembro, período de férias. A professora do pilates entrou de férias, e as aulas do RPG também ficaram comprometidas. Isto associado ao fato de que final de ano é uma carga enorme de trabalho,  passei a não cumprir mais as 2 horas em casa, e em alguns dias ficar até de madrugada sentada na frente do computador, resultado: a dor voltou intensa quase como antes.
A segunda consulta a um ortopedista, desta vez especialista em patologias da coluna
Não suportando mais, mentalmente e fisicamente, eu resolvi ir ao tal ortopedista especialista em coluna que meu médico tinha me indicado. Após muitas coisas que li na internet eu estava morrendo de medo de ir à consulta, estava com medo de que ele me dissesse que meu caso é cirúrgico, ou que eu teria que fazer uma correção via interna (ânus).
Definitivamente a última coisa na vida que quero fazer é me submeter a esta cirurgia de extração do cóccix... não quero assustar ninguém, mas acho que se alguém pensa em fazer esta cirurgia é bom avaliar muito bem antes, segundo o médico de 50 à 70% dos pacientes desenvolvem uma infecção no local, que causa cicatrizes horríveis e muita dor.  Nem preciso dizer também sobre a correção interna né.
Passando por cima de todos meus receios, e já que não há outra saída, eu fui a um médico conceituado, especialista em patologias da coluna. No exame físico ele logo percebeu que o problema do meu cóccix é sua hipermotilidade, ou seja, meu cóccix é muito móvel, se desloca mais do que o normal, causando dor.
Ele me pediu ainda outro raio x, somente da região sacro, um na posição sentada e outra em pé. E uma ressonância magnética com contraste.  Disse que após o resultado dos exames nós poderemos discutir melhor o tratamento, mas que já se adiantando, ele é extremamente a favor de fazer o tratamento conservacionista antes de pensar em qualquer outro mais invasivo.
O tratamento conservacionista se baseia em fisioterapia, termoterapia (uso de gelo local já que meu caso já é crônico e não tenho mais que usar as bolsas de água quente), uma injeção de corticóides, remédio para a dor, continuidade do RPG e pilates e troca da almofada de viscoelástico para aquela almofada “linda” de rodinha para quem fez cirugia de hemorróidas... (ai ai ai ninguém merece. Mas para quem sofre de dor debilitante e irritante, qualquer coisa que melhore  é boa).